IMIGRANTES E REFUGIADOS
PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO
Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
O drama dos imigrantes e refugiados, no mundo contemporâneo, emerge e se
impõe com a força de águas represadas. Estas se traduzem, de um lado, pelo medo
e a fuga diante da pobreza, da violência ou da guerra, mas de outro lado, pelos
sonhos, esperanças e lutas de novas gerações em busca de trabalho e futuro, pão
e paz. A travessia é sempre uma aventura arriscada de um “não lugar” para uma
terra com sabor de pátria. O mar e o desterro, muitas vezes, se convertem em
cemitério de imigrantes ou de cadáveres insepultos.
Do ponto de vista das autoridades de muitos países, tanto os imigrantes
quanto os refugiados constituem ambos um problema. Transformam-se, não raro, em
caso de polícia, ainda no pano de fundo da ideologia de segurança nacional, que
remonta aos tempos da guerra fria. Outras vezes são confundidos genericamente
com a realidade do tráfigo de drogas, armas e seres humanos. Com isso é mais
fácil fechar-lhes as fronteiras e rechaçá-los. Sem dúvida os atentados de 11 de
setembro de 2001 agravaram tal clima no mundo da mobilidade humana. Respira-se
uma atmosfera de tensão, hostilidade e conflito.
Do ponto de vista da sociedade em geral, ou da opinião pública, os
estrangeiros podem ser vistos como “intrusos”. Além de estranhos e diferentes, pretendem
roubar nossos postos de trabalho, o lugar de nossos filhos na escola... Instala-se
um dualismo entre “nós” e “eles”, os de “dentro” e os de “fora”, os “bons” e os
“maus”. Nessa perspectiva, nascem e crescem as mais variadas formas de
preconceito, discriminação e xenofobia. A intolerância cerra portas e janelas à
“invasão” do outro. Daí o ressurgimento de grupos neofacistas ou neonazistas
diante da maior intensidade e complexidade do fenômeno migratório.
Entre esses dois cenários – a guerra fria e o medo do outro – convém refletir
sobre uma via de alternativa. O fenômeno migratório tornou-se tão vivo e
estridente que não permite indiferença. Em lugar de muros e leis cada vez mais
rígidas e restritivas, resta-nos o desafio de construir pontes. Deafio que
pressupõe, simultaneamente, uma constatação, uma novidade e uma ação. A constatação é a de que as diferenças,
longe de nos empobrecerem, nos tornam mais ricos. Línguas, povos, culturas e
costumes diferentes, quando colocados lado a lado, representam um enorme
potencial de recíproco crescimento humano. A identidade de cada pessoa ou nação
só se realiza plenamente no confronto com o outro.
A novidade está nos olhos, no
coração e na alma de quem faz da fuga uma nova busca. Imigrantes e refugiados
carregam nas veias uma enorme vontade de vencer. Constituem sangue novo em
organismos e sociedades às vezes marcadas por um senil declínio; oxigênio
primaverial num mundo que caminha para o outono. Essa energia juvenil, própria
de quem se põe a caminho, faz marchar a própria história. Vigor e coragem (e
não só medo e desilusão) costumam fazer parte da bagagem dos migrantes. Estes se
tornam profetas e protagonistas (não somente vítimas) de horizontes mais
largos, abertos e plurais.
A ação, por fim, requer em
primeiro lugar acolhida, escuta e compreensão diante do outro/diferente. Aqui
não basta a tolerância ou a coexistência pacífica do multi-culturalismo (uma
espécie de justaposição de água e azeite). É urgente e necessário um salto
qualitativo em direção ao inter-culturalismo, o qual exige o confronto e o
diálogo que depuram, purificam e trazem um enriquecimento mútuo. É o que se
pode chamar de processo de integração, que passa, ao mesmo tempo, por um
reconhecimento dos vícios a serem superados e dos valores a serem incorporados
– numa palavra, inculturação.
Neste caso, longe de ser um problema ou um intruso, o estrangeiro –
imigrante ou refugiado – se converte em oportunidade. Oportunidade múltipla de
aprendizado, de confluência de energias renovadas e de encontros. Pavimenta-se
o terreno para a cultura da solidariedade, da paz e do encontro. Pontes ao
invés de barreiras – eis o que precisamos construir. Aliás, Refugiados e migrantes rumo a um mundo
melhor será o tema da mensagem do Papa Francisco para O dia Mundial do
Migrante de 2014.
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