Os ''analfabetos'' religiosos
Ninguém, na Itália, é obrigado a ter uma religião em particular.
Isso, porém, não deveria justificar a grande ignorância nesse campo – no
catolicismo, ao menos, seguido pela maioria dos italianos – sob pena de não
conhecer a própria história.
A reportagem é de Luigi Sandri, publicada no jornal Trentino, 05-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No entanto, é exatamente isso: tal
"desconhecimento" é galopante, como demonstra impiedosamente o Rapporto sull’analfabetismo religioso in Italia [Relatório sobre o analfabetismo religioso na
Itália] (Ed. Il Mulino), um livro volumoso, recém-publicado, editado por Alberto
Melloni, o secretário
da Fundação João XXIII para as Ciências Religiosas, que
sabiamente coordenou o trabalho de cerca de 30 juristas, teólogos,
historiadores, sociólogos, educadores que, de diversos pontos de vista,
chegaram a uma conclusão desanimadora: o analfabetismo religioso reina
soberano.
Não adentraremos
nos inúmeros dados fornecidos pelo livro, enriquecido também com as acuradas
pesquisas demográficas que fotografaram qual é o conhecimento que os italianos
têm das Escrituras hebraicas e cristãs, e das noções basilares do cristianismo.
Embora 70% dos italianos tenham
a Bíblia em casa, apenas 29% admitem ler uma página
de vez em quando, muitos não sabem quem "ditou" os dez mandamentos, e
outros confundem Moisés com Jesus.
Naturalmente, é
possível viver também ignorando essas coisas, mas para quem não as conhece,
falta chave para entender, por exemplo, muitíssimas obras-primas da pintura que
têm como objeto temas bíblicos e acontecimentos ligados às Igrejas.
A "necessidade" de saber
sobre o cristianismo – a religião ainda predominante na Itália e que durante séculos marcou a Europa – não significa, necessariamente, ser fiel
a uma Igreja: na Itália, ele diz respeito a todos, católicos e não católicos,
agnósticos, ateus ou crentes de outras formas.
De fato, sem esse
conhecimento, é "impossível" entender o passado deste país.
Entendê-lo – que fique claro – para o bem e para o mal, e sempre permanecendo
livre para avaliar o passado e o presente, com suas luzes e suas sombras, como
tais nos apareçam em ciência e consciência.
Tal saber, hoje, é mais importante do
que antigamente: até poucas décadas atrás, na Itália, era possível
viver sem nunca encontrar, ou encontrar muito raramente, pessoas de religião
diferente da católica. Hoje, no entanto, vivem na Itália 1,7 milhão de cristãos
ortodoxos (russos, ucranianos, moldavos e romenos, em particular), um milhão de
muçulmanos e ainda milhares de hindus, budistas, sikhs.
Portanto, é normal encontrar essas
pessoas: mas, para dialogar com elas, é necessário conhecer – independentemente
das próprias convicções pessoais – as linhas mestras do cristianismo que
animaram a Itália e ter também alguma
noção não simplista das religiões dos nossos hóspedes. Chegou a hora, enfim, de
ser cristãos sérios, ateus sérios, agnósticos sérios, crentes sérios.
O analfabetismo era uma chaga
antigamente na Itália. Agora é bem raro encontrar
uma pessoa que não saiba ler. No entanto, permanece o analfabetismo religioso:
também este uma chaga que, não curada, pode ter consequências sociais muito
desagradáveis.
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